Alunos do 4º ano A e
Professoras Eloise Cristine Manchen Eichstaedt e Janette Kuczkowski Safanelli
24/03/2017
Como é o seu nome completo?
Clara Krawulski Brayer. O Krawulski eu herdei do meu
pai e Brayer é do meu marido, o Mário, que tem uma oficina de bicicletas e a
maioria de vocês deve conhecer. Sou casada com ele, temos três filhas. A
Claudete, a Mara e a Aline. Duas delas são professoras também e inclusive neste
ano a Claudete está trabalhando aqui nesta escola com as turmas dos 5º anos.
Em que data e cidade você nasceu?
Eu nasci no dia
07 de agosto 1.947, em Luís Alves. Este ano completarei 70 anos de vida “bem
vivida”, dos quais quase 7 anos de trabalho nesta escola, os quais eu amei.
Conte para nós como foi a sua infância.
Quando eu tinha
02 anos de vida perdi a minha mãe. Ela deu à luz a um menino. Foi um parto
difícil. Minha mãe e meu irmãozinho morreram. Como eu era filha única fui morar
com o meu pai na casa dos meus avós. Meu pai trabalhava em Itajaí e só vinha
para casa nos finais de semana. Eu tinha muito carinho dos meus avós, mas senti
muita saudade da minha mãe. As brincadeiras no tempo de infância eram bem
diferentes do que as das crianças de hoje em dia. Nós não tínhamos jogos
eletrônicos. Nós inventávamos nossas brincadeiras. Junto comigo participavam
meus primos e alguns coleguinhas. Nossa principal diversão eram os balanços
feitos em enormes árvores. Passávamos tardes inteiras lá. Lembro que logo abaixo
das árvores corria um riacho. De vez em quando caía uma criança do balanço e
parava dentro da água. Dávamos muitas gargalhadas. Minha infância foi muito
pobre, mas tive o necessário para me desenvolver com saúde e alegria.
Como era a escola e os professores na
sua época de estudante de anos iniciais?
Do 1º ao 4º ano
eu estudei na comunidade de Luís Alves, onde morava. A professora era muito
brava. Eu sempre fui uma criança quietinha, mas tinha amiguinhos que aprontavam
de vez em quando. Aí a professora colocava eles de castigo, ajoelhados na
frente da turma por alguns minutos. Ela também batia com uma enorme régua nas
costas. Naquela época a escola não oferecia merenda. Se não levássemos comida
de casa passávamos fome. Por sorte, a minha vó morava atrás da escola, então a
gente ia rapidinho pedir comida para ela. Na sala de aula não havia carteiras
individuais. Eram para dois alunos. Mas quando recebíamos livros para ler
tínhamos que sentar até em trio porque não tinha um para cada aluno. Isso nos
deixava tristes porque todos queriam ter o seu e não tinha.
Onde e como completou seus estudos?
Depois do 4º ano não tinha como ficar na comunidade
porque a escola só tinha até aquela série. Uma tia minha que era religiosa,
freira da Congregação Salesiana das Devotas de Nossa Senhora Auxiliadora me
levou para Rio do Sul onde estudei até a 8º série no colégio delas. E o 2º grau
fiz no município de Campos Novos, também no colégio da mesma congregação. Não
fiz faculdade porque na época custava muito, muito caro. Quando os caminhos
para cursar a faculdade facilitaram, eu já estava quase me aposentando. Por
isso não fiz. Mas incentivei as minhas filhas que eram jovens que fizessem.
Como você escolheu a sua profissão? Teve
alguma inspiração especial ou motivação para escolha?
Eu achava lindo observar minha professora de guarda
pó, ficava admirando ela andar com uma pilha de livros e cadernos nos braços e a maneira como
ela dava aula. Desde pequeninha eu queria ser professora por este motivo. A
professora foi minha referência. A melhor referência na comunidade onde eu
cresci.
Como a senhora se tornou diretora da
escola “Pedro Aleixo”?
Eu me aposentei como professora do Estado com 25 anos
de carreira, também havia sido secretária de escola Em 1.994 trabalhei como
diretora da APAE aqui de Massaranduba por seis meses. Foi uma experiência
gratificante para mim, maravilhosa! Então, inesperadamente, recebi o convite do
Prefeito em mandato, Sr. Odenir Deretti, para assumir a direção da Escola
“Pedro Aleixo”. Aceitei o novo desafio.
Qual o período que a senhora ficou na gestão dessa
escola?
D. Clara: A
nomeação para o cargo foi em 17 de agosto de 1994 e término em 31 de dezembro
de 2000.
Como era a escola quando a senhora
assumiu a gestão (parte física, docente e discente)?
A situação da
escola na época era precária, havia pouco material didático. Para preparar o
material para os alunos contávamos com um mimeógrafo, com cotas de cópia
controladas. Quem fazia as cópias era a bibliotecária, Dirlei Biffi Volpi, que
atendia os alunos nas pesquisas e aulas de leitura. Faltava muita água na
escola. O caminhão pipa trazia para que as aulas não fossem suspensas. No
início não tinha telefone, a comunicação com a prefeitura ficava comprometida.
Os professores eram muito dedicados. Nem todos tinham habilitação na área que
lecionavam, mas faziam o possível com o pouco que a escola tinha a oferecer. A
escola tinha cantina na época. Com essa economia e o lucro angariado da festa
junina foi possível comprar uma máquina xerocadora para auxiliar os professores
no planejamento do material para suas aulas.
Quais foram as maiores dificuldades
enfrentadas?
Todas citadas acima e principalmente um trabalho para
incentivar a união de esforços, a valorização e motivação para os funcionários
e comunidade que reestabeleceram a confiança e alegria de participar das
atividades escolares.
O que lhe dava mais alegria no trabalho
diário e qual foi a conquista que a senhora considera a mais gratificante?
Não houve uma conquista em particular. Eu sentia uma
profunda alegria em chegar na escola e encontrar os alunos, professores e
demais funcionários animados e saber que eu estava ali para ajudar no que fosse
possível. Tanto que quando eu saí senti
muita falta da escola. Quase entrei em depressão, não foi nada fácil. Mas
graças a Deus, passou e só tenho boas lembranças daquele tempo.
Conte um fato engraçado que ocorreu na
sua gestão.
Teve um final de tarde do mês de novembro que a
secretária Janette Kuczkowski, saía da escola para ir à faculdade. Era época de
renovações de matrícula. Eu e a bibliotecária começamos a rir muito. A Janette
se voltou para trás e perguntou:
- O que vocês estão rindo tanto?
- Nada não, podes ir Janette. É que a cobra veio
renovar a matrícula das suas filhas – disse a diretora.
Foi engraçado porque ela ia entrar na secretaria e não
é um fato comum aparecerem cobras na nossa escola. Outro episódio que não foi
engraçado, mas se tornou lição para todos os alunos: o zelador da época, Sr.
Leopoldo Mateiczyk deixava o portão de cima, ao lado do campo, trancado com
cadeado. A entrada e saída para alunos, funcionários e comunidade era pela
escadaria da frente, que não tinha porta e o portão dos fundos onde hoje é só
para os veículos. No final de uma manhã, quando bateu o sinal, um aluno subiu
para trás da quadra que não era coberta na época e tentou pular por cima da
cerca. No entanto, ficou preso e pendurado na pele da barriga num arrame
pontiagudo. O aluno também lembra até hoje deste fato, tem a cicatriz e afirma
que aprendeu a lição de respeitar as regras coletivas.
Conte um fato que marcou a sua vida
durante o período que esteve trabalhando aqui.
Foi o dia em que eu pisei numa delegacia pela primeira
e última vez. Numa tarde após bater o sinal de entrada para sala, uma aluna dos
anos finais havia ficado no último degrau da escadaria da escola fumando.
Ninguém da escola tinha visto. Por coincidência o Conselho Tutelar estava
passando e viu. Então o conselheiro tutelar acompanhou a aluna até a direção e
resolveram ir até a Delegacia para fazer um boletim de ocorrência. A garota
teve que contar como conseguiu o cigarro e por que estava fumando. Declarou que
comprou sozinha. Teve que denunciar quem vendeu para ela pois era menor de
idade. O dono do estabelecimento foi responsabilizado e teve que pagar algumas
cestas básicas para carentes como consequência do ato ilegal.
Muita coisa mudou desde aquele tempo. Já
se passaram quase 20 anos que a senhora trabalhou aqui. Sabemos que as crianças
e adolescentes não mudam suas etapas de desenvolvimento, no entanto o meio em
que vivem contribui para sua formação. Hoje, com o avanço tecnológico e a
necessidade de os pais trabalharem fora para o sustento da família, o tempo de
convívio diminui. Que mensagem a senhora gostaria de deixar para os nossos
pais, professores e nós, alunos?
Para os pais: Apoiem a escola. É muito importante para o professor
sentir que o pai está conectado com a escola, perceber o interesse pela
aprendizagem do filho. Também peço aos pais que deem atenção para os filhos.
Talvez que o tempo seja curto, mas tirem um momento as conversas. O serviço
pode esperar e amanhã poderá ser tarde. Conversem sobre o dia a dia, os
problemas pessoais, sobre a escola.
Para os alunos: Estudem, estudem muito, prestem atenção nas aulas,
sejam educados, respeitem e valorizem os seus pais e professores que são seus
segundos pais. Tratem bem os colegas como gostam de ser tratados.
Para os professores: A profissão de vocês é nobre. Árdua, mas nobre. Não
desistam nunca dos seus sonhos, deem bastante carinho para os seus alunos.
Vejam em cada aluno de vocês, um filho que está apto a receber palavras de
carinho, as vezes de conforto e até palavras que faltam em casa. Que Deus
abençoe vocês.
Também quero fazer um agradecimento especial a todos
professores que recobraram a organização da Escola “Pedro Aleixo” junto comigo
naquela gestão. Só foi possível fazer um bom trabalho graças ao apoio de todos.
Um diretor não consegue fazer nada sozinho. Muito obrigada aos professores pelo
trabalho que desenvolveram, pelo carinho e compreensão que tiveram a minha pessoa
e todos os alunos da escola. Obrigada a D. Maria Auxiliadora Abelino,
supervisora educacional e grande amiga, a Dirlei, bibliotecária e responsável
pela cantina da escola e a secretária Janette, que trabalhou comigo. Meus
sinceros agradecimentos a todos funcionários! Estão todos guardados dentro do
meu coração!
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